Sejamos sinceros

A objectiva filma o que aparenta ser uma sala-de-estar bastante ampla. Ao fundo, como ponto de fuga, vemos portas de correr de vidro transparente, através das quais se consegue visualizar, ainda que a custo, algumas espreguiçadeiras. Uma piscina lá fora? Muito provavelmente. A tarefa de iluminar a sala está entregue ao sol que entra por essas mesmas portas de vidro.

Ao longo da parede branca estão vários quadros, uns de um estilo mais abstracto, outros mostram simplesmente diferentes paisagens. Mas o foco está, claro está, no primeiro plano. No homem que, trajando o que parece ser um fato da mais fina qualidade, está sentado num sofá de couro branco enquanto fuma calmamente um cigarro. E por cerca de um minuto tudo o que se vê é esse homem a fumar o seu cigarro, como se a câmara nem sequer estivesse à sua frente. Quando o termina, apaga-o no cinzeiro de mármore que está pousado na pequena mesa de café diante de si.

E, então, olha directamente para a câmara, esboçando a amostra de um sorriso. Tem o cabelo penteado com minúcia, o que era sem dúvida alguma estranho para quem parece ser, mas o seu rosto é inconfundível, trata-se de Nick Lawrence.

Nick: Eu não sou um fã de suspense, por isso serei directo na minha pergunta: Sejamos sinceros, quantos de vocês é que acham que vou despachar o Kevin Gunn mais rápido do que o que despachei este cigarro?

Nick levanta-se do sofá e dá a volta à pequena mesa de café, indo para trás da câmara. A imagem torna-se negra.